O mês de janeiro encerrou com um triste acontecimento que tirou o Brasil daquela sensação boa de férias de verão. O desastre de Brumadinho entrou pelas nossas casas como a lama densa, que simplesmente escorre e não pede licença pra soterrar o que estiver pela frente. Um novo luto, quando ainda mal nos recuperamos daquele que nos assolou há 3 anos, em Mariana.
Quando vemos uma situação dessa, ficamos fragilizados e questionamos a sutileza que é o fato de, repentinamente, encerrarmos a vida na Terra. Reduzidos a nada, não podemos lutar contra aquilo que é a única coisa certa que temos e carregamos enquanto estamos vivos. Situações como essa, deveriam nos voltar mais para o outro, para a compaixão e a empatia, para o senso de ajuda mútua, incondicional. Deveria.
Num mundo capitalista e cruel, até a dor se transforma em oportunidade de lucros. Foi o que aconteceu com algumas empresas que surfaram de forma macabra, na onda da hashtag #somostodosbrumadinho e, insistindo em dizer que estavam solidárias e revoltadas com a situação, promoveram sua marca com ensaios de fotos de total mau gosto, como a empresa de cosméticos que mostrou modelos (entre eles uma criança), cobertos de lama e expressões de dor e sofrimento. Por quê? Por quê? Se trabalha com a beleza, venda exatamente isso, por favor. Não condiz com os seus valores, e se tornou símbolo do maior desrespeito diante da dor de tantas famílias que perderam seus parentes. Bola fora, reação imediata nas redes e a empresa veio a público se desculpar. De novo, pergunto: por quê? Não precisava chegar a esse ponto se tivesse uma equipe de marketing mais humana e competente, que fosse capaz de trazer seus diretores de volta à terra, pra enxergarem que a “campanha” seria um fiasco e geraria uma publicidade negativa para eles.
Vi ainda uma ou duas outras empresas do setor de construção montarem campanhas toscas, no ímpeto de viralizarem, criar piada, não sei o que mais, porque não consigo ver bom senso em coisas desse tipo. Todas foram igualmente aplacadas com mensagens de internautas revoltados com a bizarrice e, pasme, uma delas ainda se justificou em sua página do Facebook, dizendo que humor negro (oi????) não era proibido. Só posso concluir que são empresas de fundo de quintal, onde uma única pessoa faz tudo e não tem noção da importância da gestão eficiente de comunicação para agregar valor à
sua marca. Estão fadadas a fechar muito em breve.
Na outra ponta, olhando para a gestão de crise da Vale, independente de qualquer tipo de posicionamento, vimos uma empresa pronta a botar a cara na mídia, assumir seu erro e pedir desculpas a todas as pessoas envolvidas no drama. Seu presidente, de imediato, se posicionou de forma a buscar ajudar vítimas e suas famílias e, unido ao governo federal, montou sua estratégia para trazer as informações de forma rápida e assertiva. Como toda empresa deveria fazer. Tecnicamente, a Vale agiu de forma correta. O desfecho dessa história, esperamos que seja justo. As empresas que se aproveitam? Esperamos que não perdurem.